quinta-feira, 10 de julho de 2014

emotional landscapes

Procurando e pesquisando algumas músicas relacionadas aos momentos, às experiências e às sensações vividas durante meu intercâmbio para Portugal - estopim para este projeto -, acabei encontrando uma canção da Björk, Jóga, que me levou diretamente a uma pequena série fotográfica que talvez seja relevante resgatar.



No início de 2011, fiz cinco fotos procurando explorar o tema "o que me inspira". A proposta era do núcleo de Fotografia do Lab_Arte - Laboratório Experimental de Arte-Educação da Faculdade de Educação da USP.


Curioso. Por um lado, não me lembro bem da concepção e da feitura das fotos, pois não há, estranhamente, um registro da minha parte. Por outro lado, isso me abre a inventar relações e histórias, o que é realmente interessante se eu considerar as possibilidades que isso pode abrir.


O que me lembro e o que é óbvio: me inspirei justamente em algumas músicas da Björk; também tomei para mim as luzes diversas e não-naturais, essa mistura; por fim, há a Wannuzynha, a boneca-modelo, símbolo pessoal de muitas coisas que, neste exato momento, nem caberia explicar. Creio que seja o mistério o encanto.


Quais seriam essas emotional landscapes? Do que se trata isso? A que se refere? O que as luzes quentes e frias de lanternas comuns têm a ver com isso tudo? Que paisagens eu gostaria de descrever e quais são as paisagens de seis meses em Portugal? Elas não são, na realidade, totalmente dependentes de uma emoção e um sentimento que concebi naquelas terras? A representação que faço não seria maior do que o próprio objetivo de remeter a essas paisagens? Não estaria eu inventando?


domingo, 6 de julho de 2014

lacuna #1


Um caminho pontuado de irregularidades e de contrastes, de requintes manuais, dada a delicadeza do solo e do detalhamento excessivo dos adornos que se elevavam imponentes. Ao lado esquerdo, a água cobria muitos metros em direção ao horizonte, enquanto que no lado direito, apenas uma parede verde, tão alta que mal era possível avistar o topo.

Em um pequeno trecho, o caminho era obstruído pela água calma e transparente - talvez apenas três ou quatro passos seriam o suficiente para atravessar em condições normais aquele trajeto. Perto dali era possível ver, no chão, marcas de outras vidas. Marcas quase apagadas pelo vagaroso vai e vem. Nas ondas, um objeto flutuava já próximo à margem. 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

guias

Quando voltou a si, estava parado ao lado de um coreto na avenida central. Um céu azul bem constante acima das copas das árvores. Ao seu lado, uma criança afirmou com convicção: mas você é tão certinho!
As sombras do meio dia sobre as pedras portuguesas e aquela petulância bem ao lado, tudo em uma avenida, tudo em pleno outono. Um pouco confusa com as conflitantes informações, andou até o que julgou ser um ponto de ônibus – viu que um se aproximava. Tão logo entrou, olhou para o coreto e nenhuma criança se encontrava lá.
Derramou-se no lado direito do ônibus, um assento bem confortável, ar-condicionado, uma tv passando informações inúteis sobre a rede de transportes rodoviários. Percebeu que alguns poucos estudantes se encontravam concentrados em leituras aparentemente densas. As testas franzidas não mentiam.
Apesar do outono, abriu a janela e foi alvejado por uma violenta corrente de ar gelado. A cidade imponente era especialmente gelada. Uma arrancada do ônibus colocou toda aquela gente sobre uma ponte – um rio de águas quase paradas se estendia sob a magnifica e alta ponte. Ao fundo, uma serra. O entardecer tornava a paisagem digna de uma pintura holandesa.
Pediu para descer tão logo atravessaram chegaram à outra margem. A boa madrugada, a fria e boa madrugada começara e poucos transeuntes passavam pela enorme praça que se formava à beira do rio. Ela era a única que caminhava só. As palmeiras e as plantas baixas eram refúgios de ratos, sabia porque já tinha vivido o suficiente para saber das vidas que se escondiam nas sombras.
Sentou-se em uma muretinha baixa e ficou ouvindo as ondas, afinal, a essa altura do dia, nada mais se via. Porém, passando a mão pela pedra fria, descobriu um papel dobrado. Ele foi até perto de um poste e descobriu que se tratava de um mapa, todo escrito em português: o Guia Certo.
Ouviu algumas pessoas falando em inglês, riam alto e caminhavam junto ao pequeno canal que desaguava logo ali. Quando voltou a si, ainda parecia segurar o tal Guia. Mas agora estava deitada.